Manual da Doceira Familiar

por: Virgílio Nogueiro Gomes
Manual da Doceira Familiar
Manual da Doceira Familiar

Adquiri recentemente num sebo (alfarrabista) no Brasil um curioso livro com o título Manual da Doceira Familiar, da autoria de Passiflora (pseudónimo), e publicado pela Civilização Brasileira Editora, em 1931, sendo esta a 4ª edição.

A 1ª edição data de 1924 e o livro continha 150 receitas, e a edição de 1931 já tem 200 receitas e um pequeno capítulo com receitas (16) para o preparo de “Massas Aymoré” que foram extraídas do livro Das Massas Aymoré e suas receitas, 2ª edição de 1929.

O século XX é pródigo em livros de receitas escritas por mulheres, para a economia doméstica, e dirigidos formalmente às “leitoras”, para uma prática feminina e caseira. Costumo dizer que estes livros se assemelham a cadernos de receitas que têm a vantagem das suas receitas terem sido seguramente testadas pelas suas famílias. E este detalhe é bem evidenciado na forma da escrita e com a cuidado de assinalar alguns detalhes para o sucesso da execução das receitas. Nunca me incomodou ler livros que são dirigidos a leitoras!

Quando recebi o livro a curiosidade levou-me, de imediato, para um detalhe. A proprietária acrescentou receitas que escreveu sobre algumas páginas em branco. E estas receitas foram as primeiras a ser lidas. A importância para a proprietária do livro seria a de garantir que essas receitas ficassem guardadas. Mas, lendo com atenção todas as receitas do livro, fiquei uma vez mais surpreendido coma receita de “Ambrosía”, cuja origem é atribuída pelos brasileiros a Portugal, que por lapso não consta do índice, “Bolo «art-nouveau»”, “Bolo de Santo António”, “Fatias de Braga”, “Manjar branco”, “Marmellada branca”, “Papos de anjo” e “Toucinhos do cêo”. Tem ainda um capítulo especial para “Pontos das Caldas de Assucar: Ponto de Pasta, Ponto de fio brando, Ponto de cabelo e Ponto de quebras.” Todos os livros são assinados pela autora e o meu exemplar é o nº 03150.

Vou transcrever algumas das receitas manuscritas:

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Pudim diplomata, página 2:

“1 litro de leite de vacca

200g de biscoutos

6 ovos menos 3 claras

Baunilha

250g de ameixas

Assucar bastante para adoçar

Bate-se os ovos bem batidos com o assucar, põe-se os biscoitos de molho no leite, quando estiver molles peneira-se e mistura-se com os ovos, já batidos com o assucar. Bota-se na forma com assucar queimado. Faz-se doce de ameixa, tira-se os caroços e põe-se uma camada de pudim e outra de doce de ameixas.”


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Bolinhos de passas, página 6:

“5 colheres de sopa de farinha de trigo

2 colheres de sopa de assucar

1 colher de sopa de manteiga

1 ovo batido

1 colher de chá de fermento

Mistura-se tudo e vae assar em formilhas e no meio coloca-se uma passa.”


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Bolo de Abacaxi, página 161:

“Forre o fundo de uma forma com uma espessa camada de assucar (200g mascavo). Em seguida coloque pedaços de manteiga gelada sem misturar. Arrume por cima symetricamente as fatias de abacaxi.

A massa de bolo: Bata 3 claras em neve – bate-se bem, junte as gemas e aos poucos uma chícara e meio de assucar – bate-se bem. Em seguida põe-se chícara d’água. Peneira junta uma chícara e meia de farinha de trigo e meia colher de fermento que juntará a massa. Um pouco de baunilha. Derrame na forma os abacaxis e leve ao forno quente. Vire o bolo n’um prato de vidro e cubra-o com um creme (2 gemas, ½ litro de leite e uma colher de maizena)”

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Fatias douradas e Bolo de cerveja, página 166

(não transcrevo, pois, o manuscrito é de fácil leitura)


Espero que se distraiam a fazer alguns destes doces. Para além das receitas atrás citadas ainda se encontram receitas manuscritas de “Bolo de sogra”, “Deliciosos”, “Bolinhos Nubia”, “Colchão de noiva”, “Pudim Biscoutos de Champagne”, e um doce sem nome e feito com leite de coco.

Bom Apetite!

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