A reacção à morte de Rui Nabeiro, que ocorreu este domingo aos 91 anos, está a ser recordada por várias personalidades como uma referência que se distinguia pela sua característica humana para com os seus funcionários.
O empresário teve a capacidade de fazer crescer um império do interior do país além fronteiras, sem nunca esquecer a sua terra-natal e as duas origens. Os seus colaboradores reconhecem isso.
Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu à morte de Nabeiro com uma mensagem publicada na página da Presidência, onde “lamenta a morte do empresário Rui Nabeiro e apresenta à família as mais sentidas condolências”.
Sem qualquer previsão que fosse a última:“Ainda ontem [18 de Março], ao fim da tarde, teve a oportunidade de o visitar no hospital”, refere Marcelo Rebelo de Sousa na mensagem.
Recorda que “Rui Nabeiro foi um precursor, construiu uma marca global, como há poucas no nosso país, mantendo sempre a sede e o coração da sua actividade em Campo Maior, terra onde nasceu e onde deixa um generoso legado”.
Em conclusão salienta: "Num tempo económica e socialmente desafiante, o exemplo de Rui Nabeiro, na sua preocupação social e participação cívica, com a comunidade e com o país, devem ser um exemplo e uma inspiração para todos quantos podem devolver à sociedade um pouco daquilo que esta lhes deu”.
António Costa, optou por demonstrar as suas condolências com a publicação de uma nota na rede social Twitter, que vem acompanhada de várias fotografias a preto e branco onde surgem os dois.
“O legado do Comendador Rui Nabeiro ultrapassa largamente o papel de empresário exemplar, dentro e fora do país. O seu percurso foi inspirador, pela força, energia e sempre o sonho de fazer acontecer”, escreveu .o Primeiro Ministro.
Acrescentou, ainda: “Um exemplo de cidadania e humildade. De responsabilidade social e de paixão pela sua terra. Uma vida em prol da comunidade. Os meus sentimentos à família, amigos e a todos os campomaiorenses”
António Costa Silva descreve o gestor com um "uma visão estratégica muito avançada, aliando a capacidade de construir e criar riqueza com a assunção de uma responsabilidade social com os colaboradores e a comunidade envolvente".
O Ministro da Economia vincou que tudo o que construiu foi a partir do "interior do território, ciente da importância dos territórios para a coesão social e económica do país".
A autarquia de Campo Maior, de que Rui Nabeiro foi edil entre 1977 e 1986, decretou cinco dias de luto municipal pela morte do 'filho da terra'..
“O Município de Campo Maior decretou cinco dias de Luto Municipal até 23 de Março pelo falecimento do Comendador Manuel Rui Azinhais Nabeiro, o primeiro presidente eleito democraticamente da Câmara Municipal de Campo Maior, em 1977, cargo que ocupou até 1986”, lê-se num comunicado.
A nota camarária acrescenta que foi uma “figura nacional incontornável e um homem que dedicou a sua vida a Campo Maior e aos campomaiorenses, contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento económico, social, cultural e humano do nosso concelho”.
A autarquia salienta que “Rui Nabeiro inspirou milhões de portugueses ao longo de várias décadas e o seu legado de dedicação ao trabalho, consciência social e, acima de tudo, humanismo, continuará a perdurar no tempo e a servir de guia para as gerações vindouras, de forma muito especial entre os campomaiorenses”.
A Câmara de Elvas apresentou um voto de pesar “em honra à vida e à memória” do empresário Rui Nabeiro, indica que decreta os três dias de luto municipal.
A autarquia salienta ainda que “o trabalho, resiliência, o amor à sua terra, e a sua ética de trabalho” serão para “sempre recordados” por quem conheceu o gestor.
A missiva conclui referindo que “não podemos esquecer os inúmeros momentos em que foi parceiro da Câmara Municipal de Elvas, assim como o investimento que realizou no nosso concelho, sendo com profunda tristeza e consternação que recebemos a notícia do seu falecimento”.
O Presidente da República de Timor-Leste lamentou a morte de um “homem bom e generoso”, recordando os esforços do empresário para promover o café timorense no exterior.
José Ramos-Horta, em declarações à Lusa disse:“Uma vida longa de grandes iniciativas empresariais, de criar emprego, riqueza para Portugal, para as comunidades onde a Delta estava instalada”,
Explicou que o empresário português “fez algumas tentativas de comprar café de Timor no início, mas o mercado na altura já era bastante orientado para outros países como os Estados Unidos. Ainda assim a sua passagem por Timor foi sentida”.
O chefe de Estado recordou que Nabeiro acabou por não poder regressar a Timor-Leste, embora a Delta continue a promover o café daquele país:
Recordou uma viagem que fez com o empresário a um evento internacional em Nova Iorque: “Falámos muito, falámos muito da Delta e do café de Timor. Tenho grata recordação dele. Uma pessoa boa, generosa para os trabalhadores e as suas famílias”.
No inicio do século XX as autoridades transitórias timorenses chegaram a anunciar que Rui Nabeiro e a Delta Cafés pretendiam comprar todo o café do país então armazenado, com um programa que pretendia colaborar com o desenvolvimento do sector que emprega cerca de 70 mil famílias.
O apoio da empresa era essencial para travar o que era, na opinião das autoridades timorenses, o monopólio norte-americano que até então controlava quase toda a exportação de café de Timor-Leste. O empresário português visitou Timor-Leste em Março de 2000.
José Luís Peixoto, autor do romance Almoço de Domingo, inspirado na vida do empresário, referiu à Lusa que Rui Nabeiro era “alguém muito especial a vários níveis”, que, além de ter feito “uma carreira extraordinária” no mundo empresarial, sobressaiu do ponto de vista humano “naquilo que diz respeito ao seu desenvolvimento, tendo marcado Campo Maior, o Alentejo e até mesmo o país”.
José Luís Peixoto revelou que na sua perspectiva "é esta dimensão que verdadeiramente o distingue e também foi este o centro do seu propósito. Rui Nabeiro foi um empresário que teve como principal preocupação as pessoas, nomeadamente as que lhe eram mais próximas e acredito que será por isso que continuará a ser recordado por muitos anos”
Jornalista