O fadista Carlos do Carmo morreu, na manhã do primeiro dia de 2021, aos 81 anos no hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O músico deu entrada na noite de fim do ano, com um aneurisma, vindo a falecer esta manhã.
Filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998), “uma das vozes mais marcantes” do fado no século XX, segundo a mesma fonte, Carlos do Carmo cresceu num ambiente fadista. Desde 1947 que a sua mãe era proprietária da casa de fados Adega da Lucília, no Bairro Alto, em Lisboa, actual Arcadas do Faia, que passou a ser gerida pelo fadista em 1962.
Embora os planos dos pais não fosse a música, a vocação musical despertou, porém, em 1963, quando gravou um fado da sua mãe, “Loucura”, num disco do Quarteto de Mário Simões.
Carlos do Carmo representou Portugal no 21.º Festival da Eurovisão, realizado em Haia, com “Uma Flor de Verde Pinho”, tendo-se classificado em 18.º lugar.
No ano seguinte saiu o seu álbum “Um Homem na Cidade”, totalmente constituído por poemas de José Carlos Ary dos Santos (1937-1984), musicados por José Luís Tinoco, Paulo de Carvalho, Martinho d’Assunção, António Victorino d’Almeida e Fernando Tordo.
O cantor gravou regularmente desde 1980, quando saiu um álbum homónimo. A sua discografia inclui temas como "Por Morrer uma Andorinha", "Bairro Alto", "Canoas do Tejo", "Os Putos", "Lisboa Menina e Moça", "Estrela da Tarde", "Pontas Soltas", "O Homem das Castanhas" e "Um Homem na Cidade", entre outras canções.
Soma mais de duas dezenas de álbuns, entre antologias, registos ao vivo e de estúdio. O último disco, "E Ainda…", foi editado em Novembro de 2020. Além de Vasco Graça Moura, Carlos do Carmo gravou poemas de Herberto Hélder, José Saramago, Sophia de Mello Breyner, Hélia Correia, Júlio Pomar e Jorge Palma. Sophia e Herberto são dois autores estreantes na voz de Carlos do Carmo, que nunca os tinha cantado anteriormente.
Foi um dos principais e mais determinantes embaixadores da Candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, e desempenhou um "papel fundamental na divulgação dos maiores poetas portugueses", como destacou o júri do Prémio Vasco Graça Moura de Cidadania Cultural.
Cantou no Olympia e no Auditório Nacional, em Paris, no Le Carré, em Amesterdão, no Place des Arts, em Montreal, nas óperas de Frankfurt e de Wiesbaden, na Alemanha, no 'Canecão', no Rio de Janeiro, no Memorial da América Latina, em S. Paulo, no Brasil, e no Royal Albert Hall, em Londres, entre muitas outras salas.
Com um percurso de mais de 50 anos, Carlos do Carmo foi reconhecido, em 2014, com um Grammy Latino de carreira, o que lhe valeu igualmente o Prémio Personalidade do Ano – Martha de la Cal, da Associação Imprensa Estrangeira em Portugal.
Em 2015, recebeu a "Grande Médaille de Vermeil" da cidade de Paris, "a mais alta distinção" da capital francesa, e, um ano depois, foi-lhe atribuído o título de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, da Presidência da República.
Em 2013, quando celebrou 50 anos de carreira, editou o álbum “Fado é Amor”, que gravou em duo com vários fadistas, entre os quais Ricardo Ribeiro, Camané, Mariza, Raquel Tavares e Marco Rodrigues.
Despediu-se dos palcos a 09 de Novembro de 2019, com um último concerto no Coliseu de Lisboa. Nele recebeu a chave da cidade de Lisboa, uma honra dada habitualmente aos chefes de Estado que visitam Portugal.
Sublinhando que a saída “é só de cena, dos palcos”, Carlos do Carmo, em entrevista à agência Lusa, afirmou que a decisão “não foi difícil” de tomar, “foi pensada” e "este era o momento”.
Jornalista