Brittany Kaiser, na Web Summit, afirmou que "continuamos incrivelmente desprotegidos”

por: António Manuel Teixeira
Brittany Kaiser, na Web Summit, afirmou que "continuamos incrivelmente desprotegidos”
Stephen McCarthy/Web Summit

A denunciante do escândalo da Cambridge Analytica, que se tornou activista pela protecção de dados, esteve na Web Summit a falar sobre manipulação e o que as gigantes tecnológicas podem fazer para a combater.

 

O tema que motivou respostas efusivas no palco principal da Web Summit foi "será Donald Trump reeleito nas eleições de 2020?".

O debate de ideias contou com a presença de Brittany Kaiser, uma das delatoras do caso Cambridge Analytica, Joe Pounder, do Bullpen Strategy Group e Neal Katyal, advogado norte-americano Todos fizeram um exercício de memória para perceber aquilo que aconteceu em 2016, assim como aquilo que ainda está por vir no mapa das presidenciais norte-americanas, marcadas para 2020.

Quando lhe perguntaram sobre a evolução da máquina de campanha de Donald Trump, Brittany Kaiser foi sucinta. "Acho que em 2016 a operação já era bastante profissionalizada, foram criados modelos muito precisos para quem podia ser alvo de mensagens que poderiam mudar os votos". E de imediato, lança uma farpa ao fundador do Facebook: "Mark Zuckerberg está a ajudá-los a fazer isto". A solução para Kaiser é "regular as big tech e policiar o discurso político".

O assunto dos anúncios políticos nas redes sociais já lançou um sério debate nos Estados Unidos, tanto que Zuckerberg já foi interrogado pelo Congresso norte-americano relativamente ao escrutínio feito às mensagens de campanhas políticas nos produtos da sua empresa. O Twitter já começou a tomar medidas relativamente à politica, decidindo remover todos os anúncios políticos da rede social, que tem servido para incendiar mais discussão.

Nas últimas eleições presidenciais norte-americanas, Brittany Kaiser, estava em plenas funções na empresa que, viria a saber-se em 2018, utilizou dados de milhões de perfis do Facebook para fins políticos, nomeadamente a campanha de Donald Trump nos Estados Unidos. Kaiser garantiu numa conferência para os jornalistas presentes que “nos Estados Unidos e no Reino Unido, usam-se tácticas para suprimir votantes, desincentivá-los e desinformá-los, tanto como em 2016". Acrescentando que trabalhou "durante três anos e meio na empresa, fiz a campanha que levou Trump à presidência. Continuamos incrivelmente desprotegidos”.

Para a conferencista, não basta só pedir aos eleitores que tomem uma decisão, uma vez que acha que existem já muitas pessoas decididas, "os democratas já decidiram e os swinging voters (eleitores de estados sem voto tradicionalmente definido) também já decidiram que vão votar nos democratas, porque odeiam o Trump". No entanto ainda existem "muitas pessoas que ainda não decidiram se vão votar ou não". Kaiser recordou que "a maior falácia para os democratas em 2016 foi pensar que Hillary Clinton ganharia a corrida facilmente". A activista gostava que as grandes empresas "dessem o primeiro passo, mas podemos ver que, em relação ao Facebook, não vão fazer isso a não ser que sejam forçados”.

Quanto ao Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados (RGPD), aplicado na União Europeia, a conferencista considera que deve ser simplificado. “Quem é que aqui já leu as informações antes de instalar uma aplicação ou aceitar cookies? As pessoas não percebem o que lêem, não há um consentimento informado”. Nenhum jornalista presente admitiu ler as referidas informações..

Sobre o denunciante português Rui Pinto, do caso “Football Leaks”, admitiu não conhecer bem o caso, mas encoraja a União Europeia a autorizar “protecção adicional” aos informadores.

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