O casal Julianne Moore e Ellen Page lutam pela igualdade de direitos

por: Maycon Policarpo

Um marco tocantes na luta pela igualdade de direitos da comunidade LGBT dos Estados Unidos é o caso de Laurel Hester contra a cidade de Ocean County, Nova Jersey, em 2005, mostrado no filme "Freeheld - Amor e Justiça".

Uma detective de polícia condecorada, com 23 anos de experiência, foi-lhe diagnosticado com cancro terminal e teve que lutar, não apenas contra o próprio destino, mas contra o conservadorismo local para deixar a sua pensão à companheira, Stacie Andree.

No centro da discussão estava o direito à igualdade. Laurel e Stacie moravam juntas, reconstruíram uma casa onde viviam e eram legalmente "domestic partners" (companheiras domésticas), a união estável americana. Quando se viu à beira da morte, quis colocar sua companheira como beneficiária da pensão proveniente dos anos de polícia, mas o caso foi julgado improcedente por ser um casal homoafectivo. Era o início de uma longa batalha.

Essa luta foi o foco do filme "Freeheld" (de Cynthia Wade), que recebeu o Óscar de melhor documentário curta-metragem em 2008, pela sensibilidade com que tratou o tema. Um prémio que evidenciava a força de uma narrativa bem montada, mas também um senso de justiça, o que motivou o argumentista Ron Nyswaner, de "Filadélfia" (1993), nomeado ao Óscar de melhor argumento original, a levar mais uma vez este drama humano às salas.

Dirigido por Peter Sollett, conhecido pela celebração indie adolescente "Nick e Norah" (2008), o drama "Amor e Justiça" tenta se cingir aos factos. Laurel (Julianne Moore) e Stacie (Ellen Page) vivem o casal, que se mantém às escondidas com receio de que assumir o relacionamento prejudicaria na carreira policial. Posição, aliás, unilateral da detective.

Nas cenas tratadas supostamente como factos, Nyswaner e Sollett, em um primeiro momento, tentam fazer quem assiste identificar-se com Laurel. Uma excepcional detective, vive para defender a comunidade de traficantes e assassinos, ao lado do parceiro Dane (Michael Shannon).

Com o envolvimento cada vez maior com Stacie (19 anos mais nova) – tratado de maneira bastante frágil –, a trama ganha o seu real significado e volta-se para o casal. Elas constroem um lar, sujeitam-se às restrições da lei (não podem casar, mas celebram uma união legalmente reconhecida), até a saúde de Laurel ditar o futuro.

O isolamento e invisibilidade delas são quebrados pelo advogado de direitos humanos Steven Goldstein (Steve Carell), personagem um tanto caricato, tendo em vista a postura de quem o inspirou. De um caso particular (e isso o filme mostra), a comunidade LGBT  transforma-o num ícone. Não se trata mais de uma luta por igualdade, mas também sobre a legalidade do casamento entre pessoas do mesmo dito género.

No drama adaptado da vida real, Julianne Moore mais uma vez emociona. Ellen Page – que atribuiu à experiência em trabalhar neste filme a de assumir a própria sexualidade – também invade a tela com a sua interpretação reservada de Stacie. E Shannon, no papel daquele que jamais se pensa como aliado, dá coesão a este trio em busca de justiça.

Neste quarteto talentoso, que inclui Steve Carell, falta, no entanto, uma perspectiva mais envolvente. O realizador Peter Sollett não lida com os conflitos, públicos sobre a questão, mesmo entre os protagonistas, usando uma lógica binária entre quem quer justiça e os conservadores.

Laurel quis apenas equidade na polícia. Transformou-se num exemplo pelos direitos civis. E Sollett não consegue levar esse contexto adiante, tal como Ron Nyswaner, com um argumento bastante conservador. Numa era em que direitos estão cada vez mais em foco, o filme poderia ser mais icónico.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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